quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A arte morre?

Há dias fui visitar o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado. Fiquei vidrada logo no hall de entrada com a representação «A Viúva» de António Teixeira Lopes, executada em 1893.


Uma obra intrigante, comovente e real. Por um lado a depressão, o choque e a passividade nos olhos de uma mãe, por outro o desespero e o choro na face de uma criança que deseja mamar e alimentar-se.



Uma peça com vida eterna, mas desgastada pela perspectiva com que sempre a vemos.
Ganha uma nova vida quando integrada num projecto como o «Outros Olhares – Novos Projectos» com curadoria de Adelaide Gingo. Esta iniciativa do MNAC teve início em Março de 2010 e pretende contribuir para uma nova reflexão da própria colecção do MNAC.

No primeiro piso vemos, num espaço de transição, uma série de telas redondas, sendo que o artista quer transmitir uma dinâmica ocular, com aspectos concretos da 'viúva', conferem uma nova leitura da obra dada por António Olaio.
A escolha do artista plástico e professor universitário foi objectiva e estratégica: trabalhar uma das peças mais vistas do Museu.






As palavras de António Olaio são esclarecedoras e transparecem a química entre artista e obra e num primeiro plano a química que a obra de António Teixeira Lopes provocou em António Olaio.
«Só faltava fazê-la. “This widow is blocking my windows” é, assim, uma exposição que nasce da própria condição daquela escultura. E, na relação com ela, posso dizer que:

- Obsessivamente, pela sua incontornável dimensão erótica, me ocupa totalmente o campo de visão.

- Tapando-me as janelas, só me deixa um espaço interior (introspecção, ou a fatalidade de ter de me conformar com um interior como meu único espaço exterior)

- Bloqueando-me o meu Windows, queixo-me deste século XIX que me bloqueia o computador. Ou talvez da permanência de cada século passado que insiste em ficar, que não reconhece qualquer rigor na valoração simbólica de um mero instante, da passagem de um século para outro.

As telas redondas assumem uma condição ocular, consequência conceptual de ter o cérebro nos olhos, e a canção do vídeo acrescenta outros sentidos:

Your darkness is all I can see / I’m trapped in 19th century / Don’t know if it’s morning or night/ Outside is out of my sight/…»





Com os olhos preenchidos a cinza, com vida nova… com os pés quase que se querendo esticar pelo cansaço e pela dor. Uma outra análise, para uma abertura de leituras e janelas perante a arte.
Paralelamente um vídeo transmite imagens da obra que se encontra no piso da entrada, sendo o seu objectivo não só complemento e/ou comparação mas sim fruição de todos os nossos sentidos e com toque na nossa alma.

A arte morre? Nunca! A arte vive em quem a mantém viva, a arte prospera e revive em todos nós que a admiramos.




Sem comentários:

Enviar um comentário